EXPEDIÇÃO AO MONTE ACONCAGUA – APRENDIZADOS

EXPEDIÇÃO AO MONTE ACONCAGUA – HISTÓRIAS E APRENDIZADOS

 

EXPEDIÇÃO AO MONTE ACONCAGUA – APRENDIZADOS

Avalanche surpreende grupo de trekkers no Aconcágua

Quem se ama e se respeita, quem vai mas deixa boas razões para voltar não faz trilhas por locais desconhecidos sem guias profissionais, sem equipamentos adequados, sem obediência às normas de segurança de cada lugar. Em Turismo de Natureza, a mais simples queda, um escorregão, pode ser fatal. Não existe coragem na irresponsabilidade.

Quando passamos nesse trecho da trilha contei essa história a Orlando e ao nosso Guia. Nos Andes nada é o que parece ser, tudo pode mudar a qualquer instante, mas, em se tratando de Turismo de Natureza, em qualquer parte do mundo, se exige cuidados, atenção, responsabilidade e respeito.

As geleiras não ficam todas brancas. Em muitos lugares, principalmente nos vales dos pontos mais altos, elas se confundem com terra e morros, com o marrom multicolorido, mas por baixo estão derretendo, vivas. Às vezes, acumulam água e, em determinado momento, rompem levando tudo à sua frente, sem nenhum aviso ou sinal. Os caminhos são de pedra, pó, poeira, barranco de cascalho solto. É preciso cuidado com o lugar onde se pisa . A Natureza recebe, acolhe, hospeda, dá o essencial, mas não negocia os interesses e as razões humanas, estabelece as suas. Nos Templos de Deus, em meio à Natureza, só cabe respeito.

Estivemos na Plaza Francia, a base onde estavam esses conterrâneos que sobreviveram a essa tragédia. A Face Sul não é para amadores. Disse isso em um vídeo gravei lá. No Campo de Confluência contei essa história a alguns dos Guias e Alpinistas, e me surpreendeu que poucos a conhecessem. Ler e estudar sobre “onde se vai” é fundamental nas viagens. Ao lado da nosso Base, perto de Ponte de Inca, ficava o Cemitério dos Andinistas. Já o havia visitado outras vezes, mas o forte Sol nos desanimou a ir dessa vez. Me limitei a mostrar a Orlando, de longe.

A morte, às vezes, parece ter razões, causas, explicações, motivos para acontecer, mas, não tem. Quem morre fazendo o que gosta, em razão dos seus desejos e vontades, talvez tenha nos seus ritos de passagem um sentido que não faz nenhum sentido para quem vive sem razões.

Cemitério dos Andinistas. Mais símbolos, jazigos, cruzes e lembranças físicas que corpos. Cada lugar tem as suas regras e riscos, os lugares mais perigosos de todo o mundo estão nas cidades, nas cabeças doentias dos Senhores das Guerras, da Ganância e das Armas. Onde a Natureza é mais hostil estaremos mais seguros do que nos ambientes em que os animais racionais chamam de cidades.

Não são apenas Histórias, são aulas, lições, aprendizados. O mundo se divide em dois: Os que querem aprender e os que não se interessam por aprendizados, os que entendem que mente e coração são fontes ilimitadas e os que prendem-se aos seus imaginários limites. Não existe certo ou errado nisso, bom ou ruim, apenas escolhas.

Quando pensei em vir ao Aconcágua pela primeira vez, comecei a ler tudo que tinha a respeito do assunto, a pesquisar as histórias de sucesso e fracassos nas incursões em seus domínios. Sempre vejo o alto e o baixo como parte da nossa existência. A história de Josenildo para mim é uma das mais especiais.

Fizemos o que nos sentimos capazes de fazer.

Pagamos todos os custos necessários para, mais que realizar um sonho, estar nos salões dos Templos de Deus, conosco e com tudo que temos de únicos e verdadeiramente nossos – o corpo e o espírito.

O vento, às vezes frio, às vezes suave, nas abas do chapéu tocavam sons das flautas andinas, músicas relaxantes e energisantes, como se mágicas fossem.

A predominância do marrom, das pedras sem gelo e vida, inacreditavelmente permitia e expunha centenas de telas multicoloridas, degradês de tons, sinfonias regidas pela luz do sol e pela ausência dele nas sombras das montanhas. Luz intensa, ar seco e raro, todas as temperaturas nos curtos espaços de tempo. Os corpos foram perfeitos, músculos e tendões. Parecia que toda a existência se resumia no inspirar e expirar, que eram os pulmões e os corações os únicos órgãos do corpo, as veias as únicas vias.

As imensas montanhas de pequenas pedras, harmonicamente distribuídas sobre as bases das montanhas pareciam perfeitas saias rodadas das mais elegantes Deusas.

Aos poucos, mais que recuperando o fôlego, vamos traduzindo os ensinamentos, absorvendo as lições, dando sentido a tudo que vivemos e experimentamos.

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