Educação Financeira

Educação Financeira como caminho para a felicidade – Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Posso afirmar que nos meus mais de vintes anos nos bancos das escolas, desde o primário à pós-graduação, não me lembro de ter tido oportunidade de ver o tema “Educação Financeira” abordado com a devida responsabilidade e profundidade. É um assunto que, cada vez mais, considero relevante para as crianças e jovens. Para mim, abrir conta bancária, ter acesso a cartão de crédito e cheque especial deveria ser precedido de cursos sérios de educação financeira, com aprovação por comprovado aprendizado.

Na ausência do mundo acadêmico e escolar no meu aprendizado de como lidar com dinheiro, coube à minha mãe ensinar-me as primeiras e maiores lições de limites orçamentários, gestão de poucos recursos e administração financeira, com todos os estímulos e restrições que elas oferecem. Dinheiro merece respeito, e para respeitá-lo é preciso que se tenha noção exata de seu valor, dos custos X benefícios nas formas de lidar com ele.

A conhecida OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – diz, a quem interessar possa, que “educação financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro”.

Baseados nesse conceito, podemos afirmar que tendo uma boa educação e disciplina financeira podemos caminhar na direção de uma felicidade sustentada, longe das utopias e fantasias que o termo encerra. É possível viver um presente sem grandes sustos e apertos, construir um futuro melhor, estudando finanças pessoais, compreendendo métodos e sistemas de governança financeira pessoal, familiar e empresarial, contando com habilidades que permitirão a cada um manter relações mais conscientes, saudáveis e respeitosas com dinheiro e crédito.

Os pais e mães educadores, aqueles que não apenas criam, enchem os ouvidos de seus filhos de bordões: “Quem poupa, tem”. “Ponha sua mão aonde ela pode alcançar”, “dinheiro não aceita desaforo”, “o que vem fácil, vai fácil”, “com dinheiro não se brinca”, “nada vale uma noite de sono perdida”, entre outras. Quem aprendeu, agradeça.

Não é só para evitar dívidas indesejadas e controlar gastos e despesas que serve a boa educação financeira pessoal, ela é também o melhor caminho para se fazer bons investimentos, formar patrimônio, ter o conforto que o dinheiro sadio pode oferecer.

Nesse país de juros anuais de cartão de crédito superiores a 300% e de cheque especial em torno de 130%, usar essas fontes de financiamento e recursos sem a mais absoluta necessidade e com muita responsabilidade é, literalmente, suicídio orçamentário, atentado contra as finanças pessoais e a estabilidade emocional. O mesmo se aplica ao crédito consignado, financiamento de veículo e outros. Sabedoria só existe em quem ajusta seu modo de vida à sua capacidade de pagar por ele, cabendo entretanto planejadas ousadias.

Quando vejo os números dos endividamentos pessoais no Brasil, assustadores, lembro-me do antigo método das mesadas utilizado pelos pais e mães educadoras, sem aditivos e empréstimos, com rigor e disciplina, estratégia infalível na educação financeira das crianças, futuros adultos mais conscientes e responsáveis na relação com dinheiro. Dão um péssimo exemplo para os filhos, os pais e mães que, sem poder ou sem razão, cedem ao assédio e insistência das crianças por produtos da moda supérfluos, brinquedos ou bens de consumo muitas vezes inúteis, desnecessários e até mesmo perigosos. Educar uma criança para que saiba dar valor ao dinheiro é uma difícil tarefa que cabe aos pais e mães educadores. No entanto, é uma questão inegociável, pois os benefícios futuros podem ir além das questões financeiras e contribuir na boa ou má formação do caráter e personalidade dos filhos. Assim, uma boa forma de começar a criar cultura e ensinar responsabilidade financeira às crianças é, desde cedo, negociar e estabelecer mesadas, diárias, semanadas, pagamentos por objetivos ou serviços prestados.

Os mercados não são deuses, muito pelo contrário, como não são o consumo, a moda, os gastos elevados ou o status os passaportes para o bem viver. O melhor presente que os pais podem dar aos filhos é a sua formação, o conteúdo que eles levarão para sua vida, tudo mais é complemento, meio e forma, que devem sempre subordinar-se ao certo, ao sério, ao necessário e importante.

Dinheiro é sim uma forma inquestionável de poder. Dinheiro em mãos responsáveis, financeiramente educadas, economicamente criteriosas, é fonte de prosperidade, paz e felicidade. Educação de qualidade, informação qualificada, realidade e verdade são mais que instrumentos de emancipação humana, são instrumentos de libertação.

Cabe ressaltar que, embora neste artigo eu tenha colocado foco na família no papel de educar e formar as crianças, jamais devemos esquecer o dever e obrigação do Estado, através da rede pública e privada de ensino, de contribuir e se responsabilizar por esse imenso desafio de educar financeiramente as crianças e jovens para a vida real. Essa é uma lição que muitos políticos e governantes, responsáveis pela administração do dinheiro público do país, dos estados e municípios, dão a impressão de não terem aprendido.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira, Colunista, Falando Sério

 

 

 

 

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Administrador, Consultor, Palestrante e Empresário do setor de publicidade

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