SEGUNDA EXPEDIÇÃO AO VALE DO PATI
SEGUNDA EXPEDIÇÃO AO VALE DO PATI – RELATÓRIO FINAL
SEGUNDA EXPEDIÇÃO AO VALE DO PATI
O Vale do Pati está e é o coração do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Paredões imensos, vales úmidos, gerais, savanas e florestas cortadas por rios, cascatas e cachoeiras que chegam a ter 300 metros de altura. Faz parte do cenário o que resta das comunidades nativas compostas por apenas doze casas, dez pousos, com mais ou menos trinta habitantes distribuídos entre elas.
As mulas e burros são os meios de transporte existentes no local, além das pernas e braços que cada um mobiliza para se locomover no ambiente hostil e paradisíaco. Cachorros, gatos, galos, galinhas, tatus, teiús, cobras, aranhas, pássaros, mocós, saguis, macacos bugios são parte da fauna visível. Os contatos com os nativos, com a flora e a fauna são ricas experiências complementares a tudo que se faz e vê no Vale do Pati. Percorremos nessa II Expedição 65 km em seis dias, com cinco noites nos pousos, sem carros, televisão, celular, internet, com banhos frios, quartos coletivos, comida caseira farta e gostosa. Somando a nossa ida ao Pati em novembro, quando a chuva nos impediu o acesso a muitos locais, totalizamos nas duas expedições dez dias de caminhada e oito noites dormidas no vale.
Em novembro a chuva nos impediu por dois dias o acesso às trilhas e nos deu o espetáculo das cachoeiras e rios cheios. Em agosto, o tempo de sol entre nuvens, ventos suaves frios, temperaturas entre 14 e 24 graus nos deu conforto e acolhimento no caminhar.
O grupo que formamos na II Expedição foi o mesmo da I: Eu, Dário Martins e Miguel Ângelo. A convivência durante quatorze dias e doze noites, em quartos coletivos ou individuais de pessoas independentes, com culturas e formações diferentes de forma harmônica e solidária é um dos maiores aprendizados desse tipo de experiência. O relacionamento humano com respeito às diferenças, obediência a limites, sinceridade, honestidade e transparência no trato tornam-se conquistas muito celebradas.
Período: 31 de domingo – sábado a 07 de agosto – domingo
Coordenação/Equipe: Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Membro/Equipe: Dário Martins.
Membro/Equipe: Miguel Ângelo
Guia: Adriano Ribeiro – Miko
Apoio: Gilmar – Mula com cangalha e broaca (bebidas e roupas limpas)
Hotel Mucugê: Pousada Mucugê
Pouso 1 – Seu Eduardo – 2 noites (capacidade 48 leitos). Viviane, Vislene, Vítor e Domingos (neto de seu Eduardo)
Pouso 2 – Seu Wilson – 2 noites (capacidade 36 leitos). Nara e Wilton (filhos de Seu Wilson)
Pouso 3 – Igrejinha – 1 noite (capacidade 65 leitos. Pouso mais próximo do Mirante do Patí e das entradas do Beco/Guiné e Aleixo). João
Hotel Mucugê: Pousada Oliveira
1 dia – 31/07 – domingo.
Salvador – Via Ferry – Santo Antônio de Jesus – Amargosa – Iaçu – Itaitê – Mucugê.
Mucugê – Passeio na cidade / Visita ao Sítio Frutas Vermelhas.
Almoço em Mucugê – Restaurante de D. Nena – Comida caseira em fogão de lenha.
Jantar em Mucugê – Beco da Bateia – Pizza.
Noite 1 em Mucugê: Pousada Mucugê. Café da manhã. Quartos individuais.
2 dia – 01/08 – segunda-feira.
Saída de Mucugê às 08h10 e chegada no Aleixo às 09h00. 15 km percorridos de caminhada. Altitude alcançada: 1.336 mt. 6 horas de caminhada efetiva.
Entrada do Vale pelo Aleixo e subida da rampa de 1,5 km e 41 min. Visita ao Cachoeirão por cima. Travessia em descida das fendas do Cachoeirão e de Seu Eduardo.
Noite 2 – Pouso: Seu Eduardo. Jantar – comida caseira em fogão de lenha. Quarto coletivo.
3 dia – 02/08 – terça-feira.
Cachoeirão por baixo. Trilha com subidas e descidas também por leito do rio, com alto grau de dificuldade e risco. 16 km de caminhada. Altitude: 1.130 mt.
Café da manhã – jantar Pouso de Seu Eduardo.
Noite 3 – Pouso: Seu Eduardo. Quarto coletivo.
4 dia – 03/08 – quarta –feira.
Saída do Pouso de Seu Eduardo para o Pouso de Seu Wilson, passando pela Prefeitura, Poço da Árvore. 9 km de caminhada. Altitude 971 mt.
Café da manhã pouso de Seu Eduardo. Jantar pouso de Seu Wilson. Fogão de lenha – comida caseira.
Noite 4 – Pouso: Seu Wilson. Quarto coletivo.
5 dia – 04/08 – quinta-feira.
Morro e Grutas do Castelo. Altitude alcançada: 1.356 mt. 8 km de caminhada efetiva. Elevado grau de dificuldade e risco.
Café da manhã e jantar no pouso do Seu Wilson.
Noite 5 – Pouso: Seu Wilson. – Quarto coletivo.
6 dia – 05/08 – sexta-feira.
Saída do Pouso de Seu Wilson para a Igrejinha. Cachoeira dos Funis. Rio Pati. 6 km de caminhada efetiva. Altitude: 1.113 mt.
Noite 6 – Pouso/Jantar: Igrejinha.
7 dia – 06/08 – sábado.
Trilha de regresso para Mucugê, via Aleixo. Subida da fenda do Mirante. Mirante do Pati. Gerais do Rio Preto. Descida da parede de Aleixo. Visita ao Povoado do Guiné e ao Sítio Frutas Vermelhas, no Capãozinho. Altitude: 1.352 mt. Distância percorrida: 7 km.
Café da manhã: Pouso da Igrejinha. Jantar: Point da Chapada – Mucugê.
Noite 7 – Mucugê: Pousada Oliveira.
8 dia – 07/ 08 – domingo.
Regresso de Mucugê para Salvador – via Iaçu – Itaetê – Amargosa – Santo Antônio de Jesus. BR 101 e BR 324.
Café da manhã: Pousada Oliveira. Almoço: Amargosa – Churrascaria Carne do Sol.
Contratamos serviço de apoio do Patizeiro Tropeiro Gilmar que levou nossas coisas do carro aos pousos, de pouso para pouso, e de volta ao carro. Isso nos permitiu caminhar diariamente apenas com o material necessário ao dia de trilha, mais leves, além de levar tudo que era necessário para dar mais qualidade a nossa estadia.
08 DIAS DE VIAGEM.
07 NOITES – 02 NOITES EM MUCUGÊ / 05 NOITES NOS POUSOS DO VALE DO PATI.
02 DIAS DE VIAGEM DE CARRO – ida – 450 km e volta – 450 km = 900 km. Total de quilômetros percorridos: 1.054 km.
05 DIAS DE CAMINHADA – 65 km de trilhas – média 11 km dia. Grau de dificuldade e riscos: baixa, média e alta.
ORÇAMENTOS:
Investimentos |
Dias |
Valor unitário R$ |
Valor total R$ |
Rateio por Pessoa R$ |
Carro Localiza |
09 |
196,40 |
1.767,63 |
589,21 |
Guia |
06 |
100,00 |
1.800,00 |
600,00 |
Hotel 1 |
01 |
130,00 |
390,00 |
130,00 |
Hotel 2 |
01 |
80,00 |
240,00 |
80,00 |
Pouso Eduardo |
02 |
200,00 |
1.200,00 |
400,00 |
Pouso Wilson |
02 |
230,00 |
1.380,00 |
460,00 |
Pouso Igrejinha |
01 |
200,00 |
600,00 |
200,00 |
Tropeiro/Apoio |
06 |
167,00 |
1.000,00 |
334,00 |
Gasolina |
04 |
127,79 lts |
674,27 |
224,75 |
Alimentação |
12 |
|
1.968,00 |
656,00 |
Ferry / Pedágio |
03 |
|
97,20 |
32,40 |
Total |
11 |
– |
11.117,10 |
3.705,70 |
Dois tanques e meio de combustível foram gastos/repostos de um Jeep Compass Flex alugado na Localiza que consumiu 8,45 lt/km.
Em Mucugê e Amargosa houve almoço e jantar. Nos dias de trilha os jantares foram nos Pousos contratados e lanches de outros pousos do caminho.
H1: Pousada Mucugê – J J Hotéis e Turismo Ltda. – Banco do Brasil – Agência: 1100-2 / Conta: 7.125 – 0 – CNPJ/PIX: 41.983.982/0001-66.
H2: Pousada Oliveira – Erciso Santos Oliveira – Banco do Brasil – Agência 1100-2 / Conta 8957-5
P1: Seu Eduardo – Vivaldo Domingos Oliveira Almeida – Banco do Brasil – Agência 1100-2 / Conta Poupança – 21658-5 – CPF/PIX: 048.629.275-48
P2: Seu Wilson – Wilton Pereira Oliveira – Banco do Brasil – 034.888.335-85
P3: Igrejinha – Marinete de Oliveira – Banco do Brasil – PIX – 005.043.185-43
Guia: Adriano Ribeiro – PIX – adrianoguiamiko@gmail.com
Tropeiro: Gilmar – PIX – 053.826.545-06 – Adriano Vieira dos Santos
Os Pousos/Hospedarias do Vale do Pati têm banheiros coletivos, água fria, quartos coletivos. Roupa de cama e toalhas limpas, comida caseira no café da manhã e no jantar. São 10 no total mas dessa vez ficamos em Seu Eduardo, Seu Wilson e na Igrejnha.
Na mochila e no corpo no do dia a dia, levamos apenas:
Capa de chuva;
Água, em média dois litros/dia;
Chapéu; Camisa de manga longa com proteção UV, calça de trilha, sunga, meia e bota;
Remédios de emergência e protetor de sol/repelente;
Frutas/barra de frutas/sanduiche;
Toalha pequena;
Celular com câmara, máquina fotográfica.
Na mochila transportada pelo apoio entre os Pousos e o carro:
Sandália havaianas; Lanterna, canivete, tesourinha, saca rolha; Roupas de dormir, roupas limpas reservas (calça, calção, bermuda, camisa, meias);
Vinhos, bebida e comida, castanhas;
Materiais de higiene pessoal, creme hidratante, protetor solar, repelente;
Material de primeiros socorros, relaxante muscular, antialérgico, anti-inflamatório, analgésico/antitérmico.
Pontos Visitados / Contemplados:
Mirante e Rampa do Pati, Gerais do Rio Preto, Gerais do Vieira, Morro, Gruta e Mirante do Castelo, Castelo por baixo, Morro Branco, Morro do Sobradinho, Cachoeira dos Funis, Cachoeirão por cima e por baixo, Rio Roncador, Poço da Árvore, Igrejinha, Prefeitura, Pouso de Agnaldo, Cachoeira das bananeiras, Cachoeira da Lage.
Entradas e Saídas do Vale do Pati:
1. Vale do Capão – Bomba
2. Andaraí – Ladeira do Império
3. Guiné – Rampa do Beco
4. Capãozinho – Aleixo
O Vale do Pati é parte de um complexo natural de rara beleza, como também é parte de uma rica, trágica, sofrida e dura página da história do Brasil e das Américas. Mesmo sendo o Parque Nacional da Chapada Diamantina pessimamente administrado, quase abandonado pelos poderes públicos, é a sua existência que assegura a manutenção de áreas preservadas, de condições mínimas de uso sustentável. O fim do garimpo, da agricultura familiar e da criação de gado dentro do Parque, por contradição que possa ter, trouxe para as famílias que continuaram mais qualidade de vida e renda com a exploração da atividade turística. A história da criação do Parque, antes e agora, é um capítulo especial que merece ser pesquisado e estudado por quem queira ir mais fundo no assunto e entender esse país, conhecer seu povo.
A Chapada hoje se sustenta com o agronegócio e o turismo, duas fontes de socialização, emprego e renda, cujas regras, fiscalização e controle por parte dos municípios, estado e governo federal dão à toda a região a situação que lá está para ser visitada e conhecida.
Tudo na Chapada já não é natureza e natural, a exemplo de Mucugê, Rio de Contas, Andaraí e Lençóis, onde belos sítios arquitetônicos já convivem com os piores tipos de ocupação urbana. Os serviços existem, porém há muito a melhorar. A capacidade empreendedora dos nativos se associa aos imigrantes de todos os tipos e espíritos criando uma sociedade híbrida de tradições e inovações, de muito boa vontade e amadorismo. Em tudo, potencial e risco, oportunidades e erros graves.
Tudo que é natural na Chapada é divino e maravilhoso, suntuoso, indescritível. Por lá circulam pessoas bonitas e feias, boas e ruins, limpas e sujas, viciadas e sem vícios, trabalhadoras e preguiçosas: uns passam, uns ficam; uns voltam e outros nunca mais. Nas trilhas se vê de tudo. Tem gente sem guia, gente caminhando com guias qualificados e outros totalmente despreparados. Tem gente irresponsável consigo mesmo e com os seus, tem gente que se cuida e protege: tem todo tipo de gente!
O que cada um deveria levar, deixar e trazer de um lugar tão especial como aquele se não as melhores energias? Trata-se de um lugar bruto, rude, quase selvagem, perigoso, encantado. Todo o charme e glamour do lugar está nisso, no frio e no vento, no sol inclemente e nas nuvens, nas águas geladas, mas reparadoras, na mais bela visão do que resta de fauna e flora. É um lugar poderoso, de imensa energia, acessível apenas aos que têm muita força do espírito, capacidade de desapego. Força nas pernas, no corpo, e coragem.
Cada vez que vou à Chapada Diamantina, em especial em viagens como essas, volto mais cidadão do mundo, volto mais raiz do planeta, mais convencido de que Deus é a Natureza e o Natural, que os homens e as mulheres são seres fantásticos e ao mesmo tempo os animais mais predadores da terra e de seus semelhantes. As Chapadas, a Amazônia, os Andes, os Desertos, os Mares, as Cordilheiras existem para mostrar aos que querem ver os seus significados, seus tamanhos, limites. A Natureza existe para ensinar aos que querem aprender.
Assim, a Segunda Expedição ao Vale do Pati, foi mais uma incursão minha, nossa, à Chapada Diamantina. Esses registros são apenas uma forma de agradecer à minha Mãe Natureza, aos meus irmãos e irmãs de viagem, de força e de fé.
Antônio Carlos Aquino de Oliveira