QUINTO DIA NO CAMINHO DE SANTIAGO

O quinto dia no Caminho de Santiago também foi de chuva.

Começamos a caminhada às 9 horas, debaixo de uma chuva incessante e fria.

Paramos para um café em Porriño. Orlando pediu um pão com ovo e veio uma vara!!! Eu pedi uma tortilla pequena mas comem quatro. Rimos muito e vamos para a segunda etapa do dia com destino Redondela onde pernoitaremos.

Hoje foi o terceiro trecho acima de 30 km. Um dos mais difíceis de Tui a Redondela, na Espanha. A chuva, embora fina, foi constante companheira. É mais agradável para uma caminhada do que o Sol, mas perigosa.

Com chuva, as capas e proteções não permitem fotos das belas coisas do Caminho.

Chegamos a Redondela, na Espanha, às 17 horas. Foram 32,5 km sofridos com uma parada para café/lanche. O ritmo de 4,64 km/h é um tanto pesado e forte para um sessentão e um setentão. Mas fomos bem, parar é pior.

A comida é farta em alguns lugares. Só paramos para um café, fazer xixi, água (com chuva tem que parar). Levamos frutas e sanduíche, mas hoje foi exceção.

Jamais imaginamos, ao pedirmos um sanduíche,  que viesse uma vara de pão. kkk

Percebemos, mesmo para quem faz caminhos tão sacrificados e significativos quanto esse, preconceitos e discriminações, típicos de espíritos primitivos.

Polvo à Galega, Calamares Empanados e Fideuá de Mariscos.

Passamos todas as dores e dificuldades físicas de todos os demais peregrinos, temos nossos momentos de silêncio e diálogo – amigo – companheiro, mas à noite tomamos nosso banho em banheiros decentes, jantamos bem e dormimos em boas camas. Não é uma questão de privilégios, mas de conquistas de direitos.

Hoje foi o dia que tivemos para lavar nossa roupa. No hotel tinha máquina de lavar mas não sabíamos usar. Penduramos a roupa para secar na varanda, mas choveu e molhou tudo.

No Caminho Português de Santiago de Compostela, entre as cidades de Tui e Redondela, na Espanha, esse monumento nos chamou atenção de maneira especial.

Ultrapassada a metade do caminho que nos propusemos a fazer, percebemos as zonas urbanas desertas. É feriado na Galícia.

Quando me propus a fazer o Caminho de Santiago, queria apenas estar comigo, pensar sobre o meu terceiro tempo. Não tinha ideia do que é realmente isso…

Passar por sobre uma ponte feita pelos romanos não é mergulhar no tempo ou viajar na história, é pensar agora no que ainda queremos do mundo e em que mundo, dentro de tantos mundos, queremos viver.

Peregrino e caminhante são nomes, entre tantos outros, que as pessoas dão aos que pagam promessas, aos que buscam respostas, aos que exercitam músculos ou exibem preparo físico. Pouco importa! São tantos velhos e tantas pessoas de todas as idades, com seus esforços perceptíveis, com suas motivações, expostas as suas químicas e limites, que se igualam no direito ao respeito.

Não importa o que cada um traz ou leva de uma experiência dessas, o horizonte que enxerga no fim do beco apertado entre frias pedras, do túnel escuro que mergulha com fé, a vida seguirá até o dia final. Quem sabe dele, não tem pressa.

Não são as escadas que subimos que nos levam ao topo, mas todo o caminho que percorremos, o que deixamos e levamos onde ninguém pode tirar.

No Caminho e pela vida oramos, rezamos, pedimos a Deus, agradecemos, blasfemamos: humanos somos!

Durante o Caminho, em várias oportunidades, duas pombas nos apareciam e cantavam seus cantos. Sabíamos que não eram as mesmas, mas comemorávamos a coincidência como divino sinal. Em vários momentos, o céu escuro ameaçava chuva pesada que para nós nunca chegou. Comemorávamos como sinal divino, como o frio suave e a chuva leve. Os pássaros e seus cantos constantes em nosso caminhar, a abundância de flores do mês de maio europeu. Em tudo enxergamos sinais de Deus.