O Mundo dos Amadores – Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Mais inconfiáveis que as promessas e compromissos da maioria dos políticos, só as estatísticas, dados e cadastros no Brasil.
Busquei informações sobre o exército de amadores formado pelos mais diversos prestadores de serviços informais e não consegui. Amadores compõem o imenso contingente de pessoas que trabalham sem notas fiscais ou recibos, sem CNPJ ou CPF, prestando pequenos e médios serviços de pedreiro, encanador, eletricista, carpinteiro, marceneiro, mecânico, pintor e muitos outros, sem nenhuma formação, treinamento ou qualificação, além daquela do “aprender fazendo”, muitos deles analfabetos.
Em tempos de pandemia e isolamento, recolhidos em casa, as demandas por trabalhadores informais cresceram a ponto de chamar a atenção sobre esse universo de pessoas quase despercebidas, mas indispensáveis no dia a dia de todos nas manutenções domésticas.
Quem não tem na sua casa, no seu condomínio ou empreendimento um famoso “faz tudo”, um quebra-galhos, que para tudo tem um jeito.
A sociedade e os governos não têm a menor noção desse contingente fantástico de anônimos amadores, um mundo informal paralelo que movimenta uma economia inimaginável. São amadores no sentido literal e amplo da palavra, muitos trabalham sem noção de preços e valores, compromissos e prioridades, acordos e contratos, prestação de contas, planejamento e orçamento, prazos, porém, fazem acontecer, executam, realizam.
São também, em parte, essas pessoas, os ajudantes, aprendizes, auxiliares até autoentitulados mestres, amadores e sem estudos, sem plantas, cálculos e projetos, os responsáveis diretos pelas construções irregulares, instalações de água e energia fora das regras, cujas consequências o urbanismo, a mobilidade, os desabamentos e tragédias atestam.
É preciso um olhar inclusivo e generoso para com esse segmento, investir em informação, formação e qualificação, muito além das escolas técnicas e das instituições de educação atuais.
Quem não tem uma ou muitas histórias com esses amadores nossos de cada dia?
Antônio Carlos Aquino de Oliveira