Meu amigo Jorge Portugal, até breve! – Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Conheci Jorge Portugal, Roberto Mendes e Raimundo Sodré através do meu amigo irmão Roque Almeida Osório, em Santo Amaro, na década de 70. Na música, eles, com o Sangue & Raça, mais Djalma Correia e Rubens Dantas, e nós com o Só Samba, eu, Carlinhos Aquino, Roque Osório, José Osório, Mytuka, Tavinho, Luciano, Jorge, Onofre, Jonilson e outros grandes amigos.
Era um momento riquíssimo e de muito agito cultural em Santo Amaro. Poesia, composição, arranjos, filarmônicas, arte, culinária regional, festa de largo, tudo era muito vivo e dinâmico.
As festas religiosas, as festas familiares de debutantes a bodas de ouro, shows e apresentações na Pousada do Coronel, Clube Irapuru e no Chapéu de Palha, almoços e jantares – maniçobas, carurus, feijoadas e mariscadas – encontros e ensaios nos uniam e reuniam todos os fins de semana e, às vezes, em dias da semana. Durante três anos seguidos o Só Samba tocou na casa de D. Canô em comemoração ao aniversário de Maria Bethânia. Éramos uma grande família e íamos a quase todas as apresentações que o Sangue & Raça fazia no Teatro do ICBA, no Corredor da Vitória, um grande espaço de resistência cultural.
A vida e suas circunstâncias nos afastaram, mas nunca nos separou, pois de muitas formas sempre acompanhei o trabalho deles, principalmente o de Jorge Portugal. Nascemos no mesmo ano. Dona Da Paz, a mãe dele, era, de muitas formas, mãe de nós todos.
Encontramos-nos muitas vezes em Salvador, e, a cada encontro, a energia do sorriso e do abraço, generoso, sincero e farto com que Portugal nos brindava e alegrava o coração.
A última vez que vi Jorge pessoalmente foi este ano, no Bar de Toti, um cantinho de Santo Amaro que tem a melhor batida de limão que já experimentei. Eu estava na companhia de minha filha e o abraço-festa de Portugal me fez sentir a inteireza de uma amizade que o tempo e a distância não abala e não acaba. Ele deu a Luana uma aula rápida sobre religião que ela jamais esquecerá.
Conversamos sobre muitas coisas e prometemos nos ver mais. Infelizmente ele se adiantou, nos deixou.
Como estrela luminosa que sempre foi, voltou ao firmamento. Um predestinado, um ser de luz.
Também fui professor, mas Jorge Portugal encarnava a profissão, dignificava o título. A educação no Brasil encolheu, diminuiu, vive em crescente crise, mas Portugal caminhava no sentido oposto, mantinha em todos a esperança nessa única possibilidade de se ter um mundo melhor: educação através de verdadeiros Professores.
Jorge era, acima de tudo, isso, um Professor, no mais nobre e belo sentido da palavra. Palavra, aliás, era sua especialidade, seu dom, sua brincadeira, seu palco, sua casa.
Abaixo, Jorge Portugal dando entrevista para a Rádio Metrópole Fm, contando o seu início como professor
A Educação, a Cultura, a Poesia e a Música no Brasil estão de luto, mas Jorge Portugal deixou a sua real e verdadeira contribuição. Por isso lhe ficamos eternamente gratos, e ele, imortalizado.
Clique na imagem e veja o Clipe de Vila do Adeus (Roberto Mendes e Jorge Portugal)
Antônio Carlos Aquino de Oliveira