DE QUAL DESEMPREGO ESTAMOS FALANDO?
“De qual desemprego estamos falando?” é um artigo publicado em dezembro de 2018, no Jornal Ei, Táxi, e
no livro “Reflexões de um cidadão do mundo”, lançado
pela Editora Adelante, em 2021.
DE QUAL DESEMPREGO ESTAMOS FALANDO?
Fala-se em doze, treze, até quatorze milhões de desempregados no Brasil. Afinal, quem são eles, onde estão, de onde vêm e para onde vão?
Números não assustam a quem não tem sensibilidade cidadã, compromisso cívico, quem não entende de matemática ou não sabe aritmética, não tem noção do que seja estatísticas, dados e indicadores sociais.
Observa-se que os que não leem, não analisam os fatos, não pensam, não têm consciência da realidade da nação, não têm o mundo real como base de trabalho, estudo e existência, não estão preocupados com os fatos. Talvez, por contraditório que possa parecer, sejam os alienados e alienígenas os mais felizes nesse contemporâneo contexto.
Fala-se que 25% dos jovens brasileiros, um quarto das nossas esperanças e força futura de sustentação, não estão estudando, não estão trabalhando, não estão fazendo nada. Mas, esses jovens comem, bebem, dormem, consomem serviços públicos, têm filhos, acidentam-se, matam e morrem, dividem riquezas e misérias. Eles são os nossos jovens, nossas crianças, que também nos assustam com seus alarmantes índices de suicídios, abafados, silenciados.
Quantos são os que estão desempregados, por que não querem efetivamente trabalhar, os famosos vagabundos profissionais? Quantos estão desempregados, por que não têm qualquer qualificação para o atual mercado do trabalho? Quantos estão desempregados por não estarem atualizados, por não entenderem que estudar e modernizar-se são desafios de toda a vida? Quantos estão desempregados por doenças, por desvios de caráter e conduta, por vícios?
Há um desafio e um dilema quase intocado, mudo e surdo, no mundo político-empresarial: Falta mão de obra qualificada, trabalhadores com vontade e determinação, gente para tocar as imensas suscitações do mundo produtivo, do novo mundo das tecnologias que aprofundam as contradições. Para os trabalhadores, faltam empregos; para o mundo produtivo falta mão de obra. Há algo muito errado nesses contextos. O mundo real, de totais instabilidades e enlouquecedoras mudanças, não se apresentou para a maioria dos desempregados, especialmente para os mais jovens. Observa-se que não há mais zona de conforto, porém isso não significa que o salve-se quem puder esteja implantado. Pelo contrário, a hora é dos competentes, dos capazes, dos flexíveis, dos dinâmicos, dos comprometidos, dos solidários, dos antenados, dos inquietos, curiosos.
O IBGE nos diz, através da Síntese de Indicadores Sociais, que 54,8 milhões de pessoas estão em situação de pobreza, o que representa 26,5% da população total, estimada em 207 milhões de brasileiros. A parte da população na condição de pobreza extrema já é de 15,3 milhões de pessoas. Pobreza e extrema pobreza também são essencialmente falta de trabalho e de emprego.
O gerente da pesquisa do IBGE, André Simões, assegura que o aumento da pobreza se deu pela maior deterioração do mercado de trabalho. Mas o que isso significa? Qual a responsabilidade pessoal e individual de cada cidadão e cidadã nessa situação? Qual o papel do Estado (perdulário, negligente e irresponsável) na promoção desse caos? Onde as escolas, os profissionais de educação em todos os níveis falharam e estão falhando nesse contexto? Onde as famílias estão errando? Até que ponto as entidades de representação de classes patronais e de trabalhadores estão falhando, desviando-se das suas verdadeiras missões?
As questões estão por demais complexas para soluções simplistas. Tudo é muito integrado, interdependente, intrincado, complementar e conexo para ser resolvido de forma isolada, segmentada e setorial.
Quando falamos de desemprego falamos de gente, todo tipo de gente, toda a nossa gente, portanto, urge que tenhamos mais clareza, transparência e qualidade nas informações, e mais, muitíssimo mais responsabilidade na administração da coisa pública, nas escolas e entidades de formação de mão de obra, nas famílias, nas entidades de classe, nas igrejas e instituições da sociedade civil e empresarial.
Não há milagres para acabar com o desemprego, mas, existem muitas formas de fazê-lo. Dentre elas, civilidade e educação, estudo, preparação, determinação e disciplina, vontade, educação financeira e no trato com as coisas materiais, ética e honestidade, esforço, permanente atualização, informação qualificada, estabilidade econômica do país, respeito a contratos e acordos, segurança e paz, saúde, respeito, liberdade com responsabilidade, planejamento familiar, profissionalismo, comprometimento.
Precisamos fazer poucas mudanças para trazer o desemprego no Brasil para um patamar aceitável, civilizado, mas todas elas são inadiáveis. Não adianta transferir responsabilidades e procurar culpados (são todos conhecidos e reconhecidos). É preciso mãos à obra, suor e sorriso, trabalho e amor.