A SINA DOS IMIGRANTES E EMIGRANTES

 

 

A sina dos Imigrantes, dos Emigrantes, dos Refugiados e Expatriados, de ontem e de agora… em tudo, por todo sempre, vítimas das políticas e dos políticos que elegem e sustentam. Erros originais dos povos originários, perpetuados.

Os mortos em fugas pelas fronteiras de todo planeta não são turistas, viajantes, são vítimas de sistemas, regimes, políticas e políticos jamais enfrentados pelos fortes e ricos, pelos poderosos donos do mundo. Sempre um barco naufragado, um caminhão baú de corpos asfixiados serão mais uma notícia, uma triste partida.

Muitos falaram, denunciaram, gritaram, nada mudou.

Assim disseram Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga:

” Setembro passou,
Outubro e novembro, já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?

Assim fala o pobre do seco nordeste, com medo da peste, da fome feroz!

A treze do mês, ele fez experiência, perdeu sua crença nas pedra de sal.

Mas noutra esperança com gosto se agarra, pensando na barra do alegre Natal.

Rompeu-se o Natal, porém barra não veio, o Sol bem vermeio nasceu muito além.

Na copa da mata, buzina a cigarra, ninguém vê a barra pois barra não tem.

Sem chuva na terra, descamba janeiro, depois fevereiro e o mesmo verão.

Entonce o nortista, pensando consigo diz “isso é castigo”, não chove mais não.

Apela pra março, que é o mês preferido do santo querido, Senhor São José.

Mas nada de chuva, tá tudo sem jeito, lhe foge do peito o resto da fé.

Agora pensando, ele segue outra trilha, chamando a família começa a dizer.

Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo, nós vamo’ a São Paulo viver ou morrer.

Nós vamo’ a São Paulo, que a coisa ’tá feia, por terras alheias, nós vamo’ vagar.

Se o nosso destino não for tão mesquinho, daí pro mesmo cantinho nós torna a voltar.

E vende seu burro, jumento e o cavalo, inté mesmo o galo venderam também.

Pois logo aparece, feliz fazendeiro, por pouco dinheiro lhe compra o que tem.

Em um caminhão, ele joga a famía, chegou o triste dia, já vai viajar:
Meu Deus, meu Deus!

A seca terrive que tudo devora, ai, lhe bota pra fora da terra Natal.

O carro já corre no topo da serra, olhando pra terra, seu berço, seu lar:
Meu Deus, meu Deus!

Aquele nortista, partido de pena, de longe da cena, adeus meu lugar.

No dia seguinte, já tudo enfadado, e o carro embalado veloz a correr:
Meu Deus, meu Deus!

Tão triste coitado, falando saudoso, um seu filho choroso exclama a dizer: Ai, ai, ai, ai.

De pena e saudade, Papai sei que morro, meu pobre cachorro quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus!!!!

Já outro pergunta: Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato Mimi vai morrer: Ai, ai, ai, ai!

E a linda pequena , tremendo de medo
Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?

Meu pé de roseira, coitado, ele seca, e minha boneca também lá ficou.

E assim vão deixando, com choro e gemido, do berço querido Céu lindo e azul.

O pai pesaroso, nos fio pensando, e o carro rodando na estrada do sul.

Chegaram em São Paulo, sem cobre , quebrado e o pobre acanhado, percura um patrão!

Só vê cara estranha, de estranha gente, tudo é diferente do caro torrão.

Trabaia dois ano, três ano e mais ano, e sempre nos prano de um dia vorta: Meu Deus, meu Deus!

Mas nunca ele pode, só vive devendo e assim vai sofrendo é sofrer sem parar, ai, ai, ai, ai.

Se arguma notícia das banda do norte, tem ele por sorte o gosto de ouvir,

Lhe bate no peito saudade de móio e as água nos zóio começa a cair.

Do mundo afastado, ali vive preso, sofrendo desprezo, devendo ao patrão – Meu Deus, meu Deus!

O tempo rolando, vai dia e vem dia, e aquela famía
Não volta mais não.

Distante da terra tão seca, mas boa, exposto à garoa, a lama e o baú.

Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo, viver como escravo no norte e no sul .”

 

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