A SENTENÇA DE MORTE

A SENTENÇA DE MORTE DA CLASSE MÉDIA RURAL

A SENTENÇA DE MORTE 

As análises e reflexões abaixo descritas são decorrentes de observações e investigações de um profissional de administração, sem amparo de pesquisas ou estudos científicos, portanto, não generalizam e nem tornam as conclusões em verdade comprovada.

As minhas raízes rurais antecedem, permeiam e perpassam todos e quaisquer cursos ou estudos que eu tenha feito, portanto, do campo sou parte. Venho de um dos ciclos de ouro dos diversos momentos históricos da agricultura brasileira, especificamente do Cacau da Mata Atlântica da Bahia. Nasci em Ilhéus e passei mais da metade da minha vida por toda aquela região. Fui fazendeiro de cacau, seguindo os passos da minha mãe e do meu avô. Conhecia profundamente a labuta, na prática e na administração.

A história registra que a partir dos anos 1746 / 1752 o cacau chegou à Bahia, mas a minha história com a cultura cacaueira começou na segunda metade da década de 50. Dos anos 60 a 90 fui parte ativa do processo de plantar, cuidar, produzir e comercializar amêndoas de cacau. Da terceira geração, eu chamava a classe à qual pertencia de Classe Média Rural. Nessa classificação tinha a alta classe média, que produzia acima de 5.000 arrobas ano, a média classe média, que produzia de 2.000 a 5.000 arrobas ano, e a baixa classe média de cacauicultores, formada pelos que produziam abaixo de 2.000 arrobas.

Como em todos os processos de produção agrícola no Brasil, a riqueza estava relacionada ao tempo, às condições climáticas, à safra de cada ano, cujos preços eram definidos pela crueldade e vontade dos grandes cartéis de commodities, como é até hoje.

A partir dos anos 90 me afastei da condição empresarial de agricultor, mas nunca perdi o contato com a terra, com os agricultores, com a produção rural, pelo contrário, ampliei minha visão e horizontes para vários setores e segmentos dos que plantam e criam para matar a fome e abastecer o mundo dos urbanos.

Na condição de Administrador vocacionado, por onde ando pelo Brasil e pelo mundo, sempre dando preferência ao campo e ao rural, observo atentamente todos os aspectos dos processos empresariais e dos empreendimentos rurais, da agroindústria, do café, da soja, do milho, do leite, do queijo, da pecuária, da caprinocultura e por ai vou. Como nos ambientes empresariais urbanos, em todos os setores onde há empreendedorismo os governos e instituições, nos três níveis, são muito mais inimigos que amigos, desestimulam mais que incentivam.

Sempre fui crítico dos pequenos e médios agricultores e criadores que exploram a atividade sem dedicação e profissionalismo, sem conhecimento e técnica, sem análise de resultados, ponto de equilíbrio e taxas de retorno, sem agregar valor à sua produção. Fora disso é sobrevivência, agricultura familiar, sitiante. O pequeno e o médio empresário rural, para terem um negócio rentável, sustentável e economicamente viável, têm que viver e estar na terra, no empreendimento, dirigir e liderar a atividade.

Por onde ando pelo Brasil, propriedades rurais abandonadas, maltratadas, à venda, penhoradas e deficitárias parecem ser a maioria. Não poderia ser diferente, dadas as condições de estimulo à produção fornecidas pelo Estado e pela sociedade, que negam a mão de obra necessária e qualificada, a infraestrutura, a manutenção, a segurança, o crédito e o apoio técnico da extensão rural. O Brasil é uma potência rural porque faz isso há 523 anos, por força de episódicos e memoráveis momentos de grandes estímulos e muito trabalho.

Na condição de Administrador, à luz das técnicas de planejamento, de análises de negócios, é possível concluir que a classe média rural brasileira tende a acabar, se é que tecnicamente já não acabou.

Longe de ser uma reflexão pessimista ou de um realismo exclusivamente técnico, o propósito deste artigo é provocar uma profunda mudança nos métodos, nos conceitos e preconceitos, nas politicas e práticas de trabalho e apoio à imensa massa de agricultores e produtores médios no Brasil.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

1 thought on “A SENTENÇA DE MORTE

  1. Uma análise lúcida e pertinente, que reflete ciclos e decadência de culturas do nosso setor primário, onde padecem os sertanejos, à mercê da sorte, que nem o tempo lhe faz (sorrir e) produzir…

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