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A origem da tragédia chamada Brasil – Parte II – Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Se a descontinuidade de planos, projetos e obras na administração pública no Brasil é um problema histórico que jamais sensibilizou a sociedade, o cinismo de atribuir ao passado a falta de atitudes no presente é cultural. No setor privado, quando se assume uma empresa por qualquer tipo de sucessão, os passivos e ativos estão juntos. Não cabem desculpas, ou a responsabilização dos que passaram, mas enfrentar sem medo a realidade presente. Competência não se avalia em discursos, mas na prática.

No artigo “A origem da tragédia chamada Brasil – Parte I, sobre “por que entendo ser o Brasil uma tragédia prevista, diagnosticada e anunciada”, foquei no problema dos analfabetos funcionais. Agora, quero me ater, sem perder o foco na questão da educação, nos estimados doze milhões de brasileiros que não estudam, não trabalham, não fazem nada, mas consomem tudo que podem, seja proveniente dos pais e responsáveis, ou da sociedade que os sustenta e mantém. Não é à toa, ou sem razão, que a taxa de jovens que não estudam e não trabalham no Brasil é estimada como sendo o dobro da taxa dos países de primeiro mundo – somos terceiro mundo.

Há uma opção nacional pela ignorância, pelo atraso, pelo subdesenvolvimento. As estimativas da OCDE – Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico – de que, em 2020, quase 40% dos adultos brasileiros entre 18 a 24 anos não estavam nem na escola nem empregados mostram a gravidade de uma situação que, aparentemente, não incomoda aos governos nem ao povo. O analfabetismo funcional e suas consequências nas taxas de desemprego entre adultos sem conclusão do ensino médio, parece ter sido incorporada a uma realidade tolerada, aceita, banalizada.

O jogo de “empurra-empurra”, “desculpa-me e eu te desculpo” entre as famílias, sociedade e governos está refletido no relatório da OCDE, que demonstra que apenas um terço dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos frequentam faculdade ou escola formal, e que, nessas faixas etárias, apenas três em cada dez jovens estão empregados.

Se o presente está em nossas mãos, o futuro está nas mãos das crianças e jovens de agora. Então, como aceitar e permitir que 13% dos brasileiros não estejam nas escolas, empregados, trabalhando, e que 23% não estudem, não procurem empregos e, pior, assumam a perigosa condição de inativos. Essas informações estarrecedoras estão no relatório Education at a Glance, de 2021, com dados sobre trabalho e escolarização amplamente divulgados pela imprensa, mas que, por incrível que pareça, não causaram reações.

Faço parte do grupo dos que não acreditam na EAD como solução mágica para tão graves problemas, embora comemore a chegada da tecnologia como ferramenta de ensino, aprendizado e conhecimento. A pandemia mostrou as fragilidades estruturais do Ministério e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, ultrapassadas e arcaicas, politizadas no pior sentido, demonstrando as imensas dificuldades que o pais teve, tem e terá em manter seus jovens mobilizados e estimulados a participar e tirar proveito das aulas remotas.

A queda na renda das famílias levou parte da população a buscar emprego e, ao mesmo tempo, dificultou o acesso ao ensino superior no Brasil, fazendo com que faculdades particulares passassem a registrar redução no número de novos alunos e as universidades públicas não conseguissem assegurar a permanência dos jovens em suas salas de aula, em especial os de baixa renda. O Enem de 2020, com toda a sua importância para acesso ao ensino superior, aconteceu em meio à pandemia, e bateu recorde de ausência. Todas as explicações dadas não podem deixar de considerar a realidade descrita acima e no artigo anterior.

O mesmo eleitor que escolhe um lado no radicalizado jogo político em que o país resolveu se envolver, com todo o seu analfabetismo político, é capaz de identificar que a falta de infraestrutura e de políticas públicas no setor de educação tem impacto direto na vida dos seus filhos, das crianças e jovens brasileiros, gerando, por consequência, um terrível desinteresse pelo mundo dos estudos, do emprego, do trabalho, da renda e do bem-estar social. Se são os bairros periféricos que apresentam mais carência de escolas, de espaços educacionais e de lazer, também não se observa nos bairros mais centrais, e melhor assistidos, maior satisfação das famílias com suas crianças e jovens.

Crianças e jovens não estão expostos a todos os tipos de violência por opção e escolha, mas por absurda, equivocada e inaceitável atitude política dos governantes, políticos, poderes constituídos e da sociedade como um todo. As famílias, com suas relações cada vez mais complexas, marcadas por frágeis vínculos afetivo-educativos, têm uma parcela significativa de responsabilidade na geração de um percentual crescente de evasão escolar, o que só ampliará o número de analfabetos funcionais sem condições de acesso ao mercado de trabalho, sem renda e sem qualidade de vida. São seres humanos com potencial, mas impossibilitados de crescimento, pelo fato de não terem oportunidade ou vontade de estudar, trabalhar e produzir. Não fazem nada.

Cabe ressaltar e comemorar as exceções, desprezar as generalizações, saudar todas as iniciativas com chances de sucesso para tirar o Brasil dessa tragédia que optou por entrar e estar.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira, Colunista, Falando Sério

 

 

 

 

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Administrador, Consultor, Palestrante e Empresário do setor de publicidade

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