A MAIOR DE TODAS AS DOENÇAS
“A maior de todas as doenças” é um artigo publicado no jornal Ei, Táxi e também no livro “Reflexões de um cidadão do mundo”, lançado pela Editora Adelante em 2021.
A violência da corrupção quando banalizada, tolerada e suportada, incorpora-se à cultura da sociedade de uma forma tão cruel que se torna doença crônica, a mais grave de todas elas, pior que todos os vírus e bactérias que possam existir.
Diante de uma situação tão séria e grave, de uma catástrofe de tamanha dimensão como essa, defrontar-se com a realidade do Estado e da administração pública brasileira, com a perversa verdade do abismo socioeconômico que separa os brasileiros, que torna excluídos pessoas invisíveis, com o baixíssimo nível de muitos dos nossos políticos e governantes, a corrupção também no uso das verbas públicas para o combate à pandemia do Covid-19 escancara a maior de todas as doenças que assola o Brasil há séculos, que infesta e destrói nossa nação.
Não se trata de moralismo, filosofia, ideologia ou política partidária, trata-se de constatação lógica, técnica e científica afirmar que mora na corrupção de valores e costumes, na cultura da corrupção tolerada e comemorada, incorporada aos hábitos e práticas dos brasileiros a sua maior doença, seus piores vírus e bactérias, sua eterna pandemia.
O brasileiro do jeitinho, do analfabetismo, da ignorância e malandragem não percebe e não entende que é do roubo escancarado e imoral do dinheiro público que nascem as favelas, os meninos abandonados, a miséria, a fome, o desemprego, a violência urbana, a falência da educação e da saúde pública, o caos nas cidades, a ingovernabilidade do país, estados e municípios. O brasileiro não aprende. Há um bloqueio inexplicável para essa escolha de cegueira e omissão.
Os brasileiros de todas as classes e cores não compreendem que é na manutenção desse sistema político-eleitoral, desse modelo de federação e estado ancorado nas práticas corruptas onde se originam seus martírios, suas vidas de penitentes, onde se decidem as sentenças de morte existenciais, profissionais e empresariais.
Quantos anos serão necessários, quanto sangue será preciso derramar para que o povo brasileiro descubra que precisa assumir as rédeas do seu destino, romper a visão escravista e colonial de que precisa de um imperador, um rei, um déspota, um chefe, um dirigente populista e demagogo, um salvador da pátria, falsos profetas como tem feito ao longo dos muitos longos e conflituosos anos passados e atuais.
Milhares estão morrendo de insuficiência respiratória decorrente do Coronavirus, mas milhões de nós continuam morrendo há muito tempo de inanição cívica, de analfabetismo político, de overdose de ignorância cidadã.
Anos e anos se passam e o caos, as crises, a desorganização e a corrupção no setor da saúde pública no Brasil não cessa, não muda. Crimes premeditados, diante dos quais a sociedade se omite e se recusa ver, discutir e mudar.
Em meio a uma pandemia como a que estamos vivendo, uma situação declarada de guerra, roubar e desviar dinheiro público é terrorismo, é crime de lesa pátria, é promoção de extermínio e assassinato em massa. É o lado mais cruel da maior doença nacional: a corrupção endêmica e epidêmica enraizada no tecido público e social.
Não existe bandido bom, corrupto legal, criminoso gente boa. Precisamos resgatar a justiça e acabar com a impunidade.
Não há como negar que a natureza, a mistura de raças e culturas tornou essa nação linda, generosa, riquíssima, de potencial e condições de crescimento extraordinário para ocupar espaços na galeria de civilizações de primeiro mundo, mas nada disso tem valor e serventia diante das manchetes do dia, de ontem e de amanhã, de assaltos aos cofres públicos. Nada indica que os brasileiros aprenderão muita coisa com essa pandemia, muito menos que mudarão, e isso será uma imensa perda de oportunidade.
Assim, sem o pessimismo dos que acham que não tem jeito, sem o otimismo dos que acham que está melhorando e vai melhorar, mas com o realismo dos que sabem que o poço não tem fundo, esperamos que todos acordem e entendam que todas as doenças de vírus e bactérias poderão ser enfrentadas e vencidas se vencermos a doença da corrupção e tudo que a sustenta e mantém.
Muda Brasil, em nome de Deus e do seu povo e em respeito aos seus filhos.
Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Te admiro Irmao pelo talento, espiritualidade, amante da natureza viva possuidor de uma rica bagagem histórica espetacular e invejada. Por tudo que conquistou nas suas viagens, excursões inúmeras, um verdadeiro historiador merece todo nosso respeito.