A DITADURA DO FILIARCADO

A DITADURA DO FILIARCADO

Não sou o único pai de filhos adultos que passou a se abster de dar palpites sobre a educação dos filhos alheios. Não sei se isso é bom ou ruim, certo ou errado, mas tenho certeza que parei de ter alguns problemas e muitos desgastes.

De “mal-educado” a “grosso” já fui chamado, por achar que pais e mães “amigos” estavam abertos a sugestões de alguém com mais experiência. Um simples alerta de que o consumo de refrigerantes ou produtos industrializados químicos na infância é prejudicial à saúde futura já me causou problemas até em família. Não é ter medo de cara feia, é aprender a respeitar os claros e evidentes erros alheios.

Reconheço a minha falta de sutileza e jeito para lidar com atos de ignorância cujas vítimas são crianças e idosos, mas reconheço que os tempos atuais exigem de nós omissão e indiferença em relação a “problemas alheios”. Tudo para mim é novo no campo do aprender a calar, mas tenho feito progressos. Os problemas não são mais nossos, são os meus e os seus.

Certa feita vi uma “mãe”, que tem a missão de formar e educar, perguntar ao filho de três anos o que ele queria comer, dando à criança o poder de discernir o valor nutritivo de tudo que estava à mesa. Os doces e as frituras foram os preferidos por uma criança emancipada diante de uma mãe, no mínimo, sem noção do seu papel.

Hoje, no restaurante “natural” em que almoço sempre que possível, entrou um jovem casal com uma criança de uns 4 a 5 anos. Sentaram-se. A criança, emancipada e empoderada, após olhar os pratos disponíveis no auto serviço voltou e decidiu: “Vamos embora, não gostei!”. Em silêncio e obedientes, pai e mãe seguiram o poderoso filho.

Não tem sido fácil para mim esquecer a profissão de educador que um dia abracei, como também não tem sido agradável abdicar da visão cidadã coletiva que sempre me motivou nas relações político-sociais.

Enfim, ficam meus textos como último recurso da existência em comunidade, ainda sem a clandestinidade, em meio às patrulhas político-ideológicas e religiosas. Falar e escrever já é esporte radical. Espero que eu não alcance o tempo em que pensar seja proibido. Mas, confesso minha perplexidade e total estarrecimento em ver a quantidade de pessoas que estão pensando com a cabeça dos outros, que copiam e colam sem saber de que trata o assunto, que, sem pensar, falam e repetem o que ouvem.

Coitadas das crianças! Elas ignoram os custos e efeitos da ditadura dos filhos, das consequências futuras da ignorância de pais e mães inaptos e ineptos.

 

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

1 thought on “A DITADURA DO FILIARCADO

  1. Concordo e também lamento.
    Frutos das ideologias, tanto dos progressistas quanto dos conservadores, hoje temos uma juventude dominadora. A maioria dos canceladores de internete tem menos de 30 anos
    No futuro, em que teremos mais idosos que jovens, veremos o que vai dar.

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