A classificação dos seres humanos

A classificação dos seres humanos – Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Confesso meu imenso desconforto com a “classificação” das pessoas muito além da “identificação”. A parte policial e judiciária, com a justificada necessidade de nome completo, filiação, endereço, estado civil, naturalidade, nacionalidade, formação, idade, peso, altura, sexo, cor da pele, religião, entre outras questões, às vezes ultrapassam os limites de razoabilidade, especialmente em tempos tecnológicos em que é possível um cadastro único universal, do nascimento à morte, com registros simples de todas as intercorrências que possam ocorrer a cada indivíduo na sua passagem existencial. Um currículo crescente sempre atualizado pelo “grande irmão”.

Apesar de ser apaixonado por história, ter profundo respeito pelo passado da humanidade, o meu e o das outras pessoas, não carrego nas costas o peso dos possíveis erros e equívocos de meus ancestrais. Entendo que cada geração tem o dever e o compromisso de ser melhor que a anterior nas questões do conhecimento, da humanização e dos avanços civilizatórios, corrigindo erros e avançando na direção de um mundo melhor e mais justo.

A cada renovação dos documentos identificadores e formativos tenho que reafirmar meus dados, alguns variáveis como idade e peso, outros invariáveis como nome, altura e filiação, além dos acrescidos como cursos e experiências. E ainda tem as classificações. Dizem que sou “pardo”. Nunca entendi porque, mas é assim que me classificam. Sou da roça e lá os burros e mulas também eram pardas. Sem problemas. Mas os amigos me chamam de moreno, mulatinho, café com leite.

Tem muita gente incomodada e incomodando todo mundo com as “classificações dos seres humanos”. Tem muita gente brigando por isso. Eles devem ter suas razões, sei lá.

Me perguntaram no último processo de “identificação classificatória”, para minha surpresa, qual é o meu sexo. Uai, tem mais de dois? Como devoto de Nossa Senhora da Natureza Plena e Soberana, sou macho, do sexo masculino, homem, daqueles que marcam “x” na casinha de “M” dos papéis dos questionários. Para mim as escolhas comportamentais das pessoas são livres e soberanas, declaráveis ou privadas, como são os demais direitos de escolhas de formação acadêmica, profissão, religião, ideologia, forma de se alimentar, viver e amar.

Por patrulhamento político-ideológico, por terrorismo religioso, por preconceito e racismo, por demência ou falta do que fazer, as pessoas – já tão aparatadas por tantas coisas – são classificadas e divididas. Não bastasse tudo isso, ainda cabe a auto declaração de enquadramento nas caixinhas classificatórias de lados, bandas, pedaços.

Talvez tudo isso tenha uma razão de ser e sirva para tornar a humanidade mais justa e humana, menos egoísta e bélica.

Manter-se livre e independente em um mundo classificatório, patrulhado, de donos e impérios, de ditaduras e falsas democracias não é fácil e tem elevado custo.

Enquanto não for crime a liberdade de Ser e o direito de Ter, vamos surfando nas ondas ácidas dos classificadores de humanos e esquartejadores de pessoas.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira, Colunista, Falando Sério

 

 

 

 

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Administrador, Consultor, Palestrante e Empresário do setor de publicidade

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