Os espaços democráticos e libertos das feiras livres

Por Antonio Carlos Aquino de Oliveira

É verdade, lá não tem cheiro bom, perfumes artificiais e nem ar-condicionado. Nos espaços cobertos ou abertos no mais milenar dos ambientes não há comedimentos de gestos e atitudes, sobra espontaneidade, primitivismo puro e aprendizados da escola real e pura da vida. A higiene é precária, o jeito é rude, não tem cartão de crédito. De fato, a organização é primitiva e o “dá licença” é trocado pelo “sai da frente!”. Ali acontece de tudo, e quase tudo se resolve por lá mesmo.

Lá se encontram soluções para tudo: para todos os males, quebrantos e encantos. Por lá não é preciso pechinchar, tudo é mais barato mesmo. As coisas são mais artesanais que industriais, o jeito é primário, mas sobram as mais diversas formas de sabedorias.

Lá não tem glamour, charme, nem gentileza forçada, mas tem riso farto e gargalhadas fáceis, os palavrões correm a torto e a direito. Sem escola e formação, lá se encontram médicos, farmacêuticos, técnicos de futebol, padres sem batina, pastores sem igreja, juízes e poetas.

Lá não tem essa de bullying, de censura, de ideologias e lados. Na visão deles, chamar uma “nêga” de gostosa não é racismo nem machismo, é elogio. Para eles, gay é viado, mas é gente da gente, tudo igual, não há fobias.

Lá, velho não tem privilégio, tem respeito. Iguarias? Todas. Temperos? Todos. Remédios, tem pra tesão sem receita médica, garrafadas e xaropes para todos os males, até coração partido e chifre dolorido.

Para ir lá não é preciso coragem, é preciso despir-se de vaidades, de preconceitos, de racismo, de “frescuras” e “viadagens”. É preciso gostar de gente, de gente como a gente, embora pareçam e sejam tão diferentes. Não se abra, feche-se e se cuide, mas não tem risco nenhum. É lugar de doido, mas tudo sabido. Onde ninguém rasga dinheiro. Se chover vai melar, vai molhar e vai embolar, mas dá-se um jeito.

 

Por lá se veem todas as cores e se sentem todos os cheiros, diversos, plurais, democráticos, livres.

Lá não é igreja, mas tem nome de santo. Estou falando da Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa, no caminho de volta do Nosso Senhor do Bonfim. Um lugar, às vezes, tenebroso e feito, cheio de becos e vielas, mas “difudê”.

 

 

 

 

 

 

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Administrador, Consultor, Palestrante e Empresário do setor de publicidade

aquino@muralpublicidade.com.br

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