MÃO DE OBRA – UM PROBLEMA QUE PARECE NÃO PREOCUPAR O BRASIL

MÃO DE OBRA – UM PROBLEMA QUE PARECE NÃO PREOCUPAR O BRASIL

MÃO DE OBRA – UM PROBLEMA QUE PARECE NÃO PREOCUPAR O BRASIL

“Um homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é a sua vida e a vida é o trabalho, e sem o seu trabalho um homem não tem honra, e sem a sua honra se morre, se mata, não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz.” (Gonzaguinha).

Comecei efetivamente a minha carreira de Administrador no setor de recursos humanos, na condição de estagiário em cargos e salários. Desde a adolescência ajudava a minha família na atividade de gerenciar pessoas, o desafio dos desafios. Assim, em cinco décadas, direta ou indiretamente cuidando de pessoas – quatro na condição de gestor/empresário –, mantenho a minha determinação em buscar entender essa complexa equação, mas totalmente descrente que a humanidade, a sociedade brasileira especialmente, tenha a capacidade de resolver a questão de forma minimamente satisfatória.

Já escrevi vários artigos sobre o tema, já defendi pontos de vista sobre a questão em diversos fóruns e oportunidades, até chegar à conclusão de que esse é um assunto que parece não preocupar a sociedade brasileira. Não há interlocutores interessados em debater o assunto de forma séria e com foco em soluções.

No meu cotidiano e nas viagens que faço, mantenho contato com empreendedores e empresários, fontes das minhas pesquisas empíricas sobre mercado de trabalho. Apesar de ser a principal reclamação de todos os geradores de emprego e renda com quem converso, não percebo, seja no campo individual ou coletivo, determinação e vontade de resolver essa questão. Embora as entidades de classe empresariais e de trabalhadores, governos e instituições afirmem ter a bandeira do emprego como prioridade, não vejo nenhum projeto sustentável, consistente e efetivo para resolver a questão em médio e longo prazo. Apenas discursos, bandeiras e planos.

Parece estar incorporada à cultura atual das famílias e da sociedade a absurda e assustadora aceitação dessa geração nem-nem, nome dado à grande parcela de jovens em idade produtiva que não trabalham, não estudam, nada produzem, mas consomem e dão despesas. Há uma imensa concentração de recursos na diplomação de analfabetos funcionais e um desprezo quase absoluto pela formação de base e técnica, pelo enfrentamento da questão dos ociosos, dos viciados, dos dependentes. A importância da família no processo educativo mais que negligenciado não está mais em pauta.

O Brasil não tem cultura da transição, mas da ruptura. É fácil observar. Embora o País tenha os olhos voltados para o G7, G20, na tentativa de ser uma economia de primeiro mundo e servir à grande agiotagem do mundo do dinheiro, é a falta de mão de obra primária e básica que trava o desenvolvimento do país: pedreiros, pintores, encanadores, eletricistas, mecânicos, cozinheiros, garçons, serventes, trabalhadores rurais. Técnicos especializados, especialmente em tecnologia, tornaram-se peças raras, diamantes a serem garimpados.  Faltam profissionais para atender as demandas do mercado.

Há um imenso fosso entre as academias e o mundo produtivo, entre as escolas e o mercado de trabalho, entre os empresários e os trabalhadores. Todas as iniciativas para solução da questão são tímidas, localizadas, isoladas.
É sintomático e autoexplicativo que, em 2024 D.C., exista trabalho escravo no Brasil, que o campo continue sendo esvaziado e as cidades inchadas, que a dignidade do trabalho esteja dando lugar ao orgulho de ser inútil e dependente.

O mundo dos arrogantes e dos insensíveis, dos xenófobos e dos racistas, dos misóginos e dos autoritários não aprendeu a lidar com a mão de obra dos migrantes e imigrantes, dos refugiados, com as fontes de carências e abundâncias, com a harmonização das relações de trabalho, com a implantação da cultura de resultados, da participação, do mérito, da responsabilidade e do comprometimento, da capacitação e valorização.

A mecanização, a robótica, a inteligência artificial, a tecnologia e os sistemas modernos, longe de serem vistos como ferramentas de um processo de constante evolução e transição, tornaram-se armas de terrorismo psicológico no terreno fértil das frágeis personalidades. Os intelectuais não se incorporam aos desafios de formação de massas pensantes e se juntam aos discriminadores, aos disseminadores de preconceitos em uma nação em que o analfabetismo não incomoda e a ignorância está no poder e com poder. O ego e a vaidade dos que pensam não abrem espaço para a inclusão. O saber não é compartilhado. Fala-se dos usos, mas ninguém quer avaliar os abusos como forma de ajuste de condutas e práticas.

Mão de obra é um problema que atinge a Casa Grande, aos que dizem precisar dela, mas parece não ser motivo de preocupação. As relações mudaram, mas nenhum dos lados está disposto a trabalhar os seus conflitos, em achar uma saída necessária, urgente e fundamental para todos os lados. Os debates ideológicos, políticos e governamentais em torno de questões como emprego e renda, trabalho e desenvolvimento, Estado máximo e Estado mínimo, pleno emprego e desemprego não avançam. Estão contaminados pelo preconceito, pelo oportunismo de usar massas de conflito, pela falta de objetividade e pragmatismo, pelos interesses setoriais menores, pelo ócio e pela preguiça, pelas piores práticas nas formas de relacionamento nos mercados, na política, nas administrações públicas e privadas, na sociedade de modo geral.

Por tudo isso é fácil e óbvio concluir que mão de obra no Brasil é uma questão da qual todos falam, mas a ninguém preocupa. Esse poço não é raso e parece que ninguém tem interesse em mergulhar fundo.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira
Administrador e empresário

Falta ou sobra?

1 thought on “MÃO DE OBRA – UM PROBLEMA QUE PARECE NÃO PREOCUPAR O BRASIL

  1. Perfeita a sua análise, bom Aquino.
    Tenho me defrontado com esta triste realidade, ao buscar (talvez melhor, garimpar…) estudantes com talento, visando encaminhá-los às oportunidades de estágio que temos na EvoEstágios.
    Nosso desafio está aí !

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