Expedição 3 Picos – Cordilheira do Espinhaço – X

Expedição 3 Picos – Cordilheira do Espinhaço – Filó

Expedição 3 Picos – Cordilheira do Espinhaço – X

Filó

Sempre afirmo que viajar é muito mais que conhecer lugares, é conhecer e reconhecer pessoas incríveis.

Nessa nossa ida a Rio de Contas, além de rever queridos amigos e amigas como Albérico, Graça, Cacinha, Marcos, Fernando e sua esposa, conhecer e conviver com Lé, Rose, Nem, Eoberto, as meninas da Pousada, Didier e seu sócio, a família Mafra, o pessoal da Padaria, do Supermercado, do Posto de Gasolina, da feira livre, mais que ter sido bom e legal, fez a semana ficar curta e deixar a sensação que é preciso voltar logo.

Nesse universo de gente boa, simpática e hospitaleira, reencontrei Anphilófio Gottschall, ou simplesmente Filó.

Como sou cliente da Pousada há muitos anos, o nome Filó não me soou estranho, e não era, mas da forma que nos recepcionou, a empatia da simpatia se instalou entre nós.

Filó é a paz encarnada na tranquilidade. O tempo dele tem outro ritmo e contamina. A voz nunca sobe o tom e a gentileza é a sua marca.

Da última vez que estivemos em Rio de Contas, não por coincidência exatamente com Miguel e Camargo, no que chamamos “volta olímpica na Chapada”, todas as noites íamos ao boteco Dicinho, irmão de Filó – no prédio colonial centenário da família, lindíssimo, bem conservado – beber cachaça de “infusão”, na Bahia chamada de “fôia pódi”. Erva doce, milome, cambuí, pau de resposta, cravo, canela e outras folhas, cascas ou raízes envelhecidas na cachaça destilada.

Nas muitas conversas e prosas, ficamos sabendo que com o falecimento de Dicinho, Filó foi convencido a ficar com o Boteco da Família, e está tocando do seu jeito, ritmo e modo. Ele abre o Boteco somente quando não está trabalhando na Pousada, quando não está com a família, ou está fazendo os deveres da vida.

Ele nos disse que ia abrir na quinta-feira, dia 07 de março de 2024, depois do seu baba – pelada/jogo de futebol. Ninguém é de ferro!!!

Marcamos de ir lá beber umas e as meninas da Pousada, entre muitos risos e gozações, nos disseram que lá só tinha cachaça. Nada mais. Não tinha tira-gosto. Nem ovo cozido ou amendoim torrado.

Apelamos para que ele fizesse ao menos uns ovos de codorna e Miguel encomendou umas Heineken.

No dia combinado subimos e descemos o Pico de Itobira. Chegamos de volta à cidade às sete da noite, mas tão quebrados que fomos direto jantar, sem nem tomar banho. Não fomos ao Boteco de Filó.

Fiquei constrangido e chateado. Não sou Santo mas tenho por hábito e costume pagar as minhas promessas e honrar a minha palavra.

Na sexta-feira, nossa última noite em Rio de Contas, chegamos do Pico do Barbado às 20:30, mais danificados ainda. Uns cacos!!! Acho que Filó nem abriu e nós nem olhamos para o suntuoso boteco.

No sábado, antes de partir, comprei na feira uma Churrasqueira portátil, aquelas de alumínio fundido, grosso e pesado, com tampa, grelha e bojo para o carvão, para presentear Filó e fazer a minha retratação.

Chegamos ao “estabelecimento comercial” e lá estava a ilustre figura. Não bebemos nada pois era de manhã e íamos pegar estrada com destino a Mucugê, mas fizemos a entrega da Churrasqueira com direito a solenidade típica de Boteco de interior: conversa fiada, risos fartos e fáceis.

Sou Flamengo e Filó nos recebeu vestido orgulhosamente com a camisa do Fluminense. Eu avisei a ele que seria 2 x 0, e foi.

Após as aulas de como fazer churrasquinhos, dos diversos tipos, orientações de como usar a churrasqueira, pedidos de que faça “infusões” para vender no atacado, entre abraços, partimos.

Ah!!! Ganhei uma garrafa de branquinha pura. Vou fazer uma “erva doce” com ela.

Vou voltar lá, levar meu timbau e participar da seresta prometida.

Santo não sai sem reza!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O irmão de Filó e os amigos seresteiros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Abril Despedaçado é um filme suíço – franco – brasileiro de 2001, dirigido por Walter Salles e baseado no romance Prilli i Thyer de Ismail Kadare, adaptado por Karim Aïnouz. Produzido por Arthur Cohn e estrelado por Rodrigo Santoro, José Dumont, Flávia Marco Antônio e pelo ator mirim Ravi Ramos Lacerda, o filme é ambientado no sertão brasileiro no ano de 1910 onde um jovem de vinte anos de idade passa a ser estimulado pelo pai a vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival, causada pela rixa que as duas famílias conservam por disputas de terras em meio a vastidão do Nordeste. Após filmar Abril Despedaçado, Santoro ganhou notória visibilidade internacional, recebendo inúmeros convites para filmar fora do Brasil.

O filme foi rodado inteiramente no estado da Bahia, tendo como locações as cidades de Caetité e Rio de Contas, além das localidades de Ibiraba e Bom Sossego, pertencentes aos municípios de Barra e Oliveira dos Brejinhos, respectivamente.

Apesar de ter sido o representante brasileiro na disputa para tornar-se finalista entre os concorrentes da categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2002, Abril Despedaçado apenas chegou aos cinemas brasileiros em 2002; o filme foi exibido durante apenas uma semana, em uma sala de cinema de Salvador, em outubro de 2001, para que tivesse condições de ser escolhido como representante brasileiro ao prêmio; o filme, contudo, acabou não sendo finalista na cerimônia. O longa chegou a ser indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, mas perdeu o prêmio para Terra de Ninguém.

Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

O sobrado que foi do Pai de Filó é do século XIX. Era a Venda onde o patriarca comercializava tudo que era típico e tradicional na época em que não existia supermercados.

Com a passagem do Pai, o irmão Dicinho transformou o lugar em um Bar que administrou por mais de quarenta anos, as vezes com a ajuda de Filó.

Em 2001 o local foi adaptado para ser cenário do filme – Abril Despedaçado – sendo o prédio da família o “Bordel” na película. A irmã de Filó, na condição de figurante, foi a dona do prostíbulo.

Os que viveram a época pouco contam a história e os jovens de agora não entendem o valor e a importância do passado para o que são hoje e serão amanhã.

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