Humanos perfeitos

Manifesto de repúdio aos humanos perfeitos – Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Não tenho mais nenhuma paciência com os canalhas que dizem falar em nome de Deus e ser na terra seus legítimos representantes.

Estou de saco cheio dos salvadores da pátria, dos heróis nacionais, dos donos do poder que em seu nome perseguem e matam.

Não tenho mais nenhuma paciência com os falsos intelectuais, com os desonestos doutrinadores, com os radicais que vivem semeando ódio e divisão, presos às suas patéticas ignorâncias e paranoias.

Aboli todos os ídolos, gurus e mitos, aprendi a separar as obras de seus autores, para que o comportamento de quem cria não se confunda com a beleza de suas criações.

Afrontam-me as diversas formas de hegemonia, os ultrajes e agressões aos diferentes, as harmonias impostas, como os abutres políticos que se nutrem da fome, da inocência, da ignorância e da miséria da sua gente, que usam e manipulam jurando defender.

Tomei nojo das ideologias e religiões comerciais e de conveniências, dos seus fanáticos líderes e dementes seguidores.

Perdi toda a fé nos homens, ainda que, ao lado de alguns, alimento a esperança e a utopia de ajudar o mundo a ser melhor para nele podermos viver, respirar, sobreviver e legar.

Vivo inquieto, incomodado e reagente ao desmoronar de tudo, e com assombro assisto o “novo” que surge.

Não consigo ser prisioneiro comum do mínimo, do menor, do pequeno, do mesquinho e raivoso, do único sentido e direção, e isso me maltrata no mundo de manadas, de massas amassadas e disformes. Anseio por oxigênio puro para o livre pensar.

Pedem-me silêncio nos momentos em que sempre vejo todas as razões para gritar.

Ordenam-me omissão na vida, quando tudo que aprendi foi assumir posições, manifestar meu livre concordar ou discordar.

Não consigo ver os homens maiores e melhores que todos ou alguém, mas enxergo com clareza os seres abomináveis, desprezíveis, patéticos, ridículos nos seus efêmeros cargos e papéis a proferir e cometer asneiras e impropriedades como se úteis fossem.

Desconfio dos donos das verdades absolutas, dos senhores da razão, dos autênticos autoritários, dos ditadores de províncias, dos magistrados sem noção de justiça e ética.

Este mundo é também meu, me expulsa e me inclui, me hostiliza e acolhe, real e contemporâneo, cruel e gentil. Não foge do viver quem vivo está. Não há refúgio para os que existem.

Sigo humano, oscilando entre a depressão e a euforia, entre as noites de bons sonhos e terríveis pesadelos. Humanos imperfeitos eu respeito.

Busco pessoas assim como eu, que falam o que pensam com respeito a quem o merece, livres e soberanas, que sabem expressar honesta e sinceramente seus sentimentos, com autonomia e sem tutela, gente de coragem pura e genuína, que tem a valentia honesta dos que conquistaram a liberdade possível no mundo dos prisioneiros por opção e vocação.

Estou de saco cheio das verdades universalizadas e das mentiras generalizadas, dos papagaios/humanos que repetem, copiam, colam.

Inspirado no “Poema em linha reta” de Álvaro de Campos.

Antônio Carlos Aquino de Oliveira, Colunista, Falando Sério

 

 

 

 

Antônio Carlos Aquino de Oliveira

Administrador, Consultor, Palestrante e Empresário do setor de publicidade

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