COMO ISOLAR OS EXCLUÍDOS?
“Como isolar os excluídos? é um artigo já publicado no “Jornal Ei, Taxi” e no livro “Reflexões de um cidadão do mundo”, lançado pela editora Adelante em 2021.
COMO ISOLAR OS EXCLUÍDOS?
É possível fazer uma gradação entre os excluídos, separá-los entre os que estão em nosso dia a dia e os que nossos olhos não veem? De repente, onde mora o porteiro do prédio, a babá, a faxineira, o gari, o lavador ou guardador de carro, como eles vivem, como vêm e voltam do trabalho, com quem e como eles se relacionam em suas comunidades entrará na pauta dos políticos, dos governos, do Estado e da sociedade? De repente, ficamos todos iguais e solidários por força de milagre ou de castigo?
É, a África e os países das populações invisíveis agora são o mundo, todo o mundo. A saúde dos taxistas, dos motoristas dos ônibus, dos garçons e de todos invisíveis que a todos servem e atendem agora estão visíveis e passaram a ser problema de todos. Quem diria que foi preciso passarem dois mil e vinte anos depois de Cristo para que a sociedade aprendesse o valor da interdependência, da solidariedade, da higiene e da educação como fator de saúde.
Como e o que fazer com as pessoas que moram nas favelas e servem a todos, mas não têm água em casa, não têm dinheiro para material de higiene e limpeza, álcool gel além da cachaça que anestesia a fome e engana a realidade? Como isolar os que já estão excluídos nos guetos, becos, ruelas, ruas, os que não têm acesso a saneamento, saúde pública, emprego e renda?
Não é preciso evangelizar ou politizar esse debate, não cabe falar mais uma vez das esquizofrênicas ideologias, dos corruptos culpados. Cabe ver o mundo e sua realidade como ele é. Se o destino dos vivos não os unifica, a morte possível e iminente os unirá.
Não é apocalipse, é consequência, são fatos, dados, estatísticas, realidade nua e crua. Tudo que se passa e está acontecendo tem origem, responsáveis, tem solução, mas as lições precisam ser definitivamente aprendidas.
Agora, não é mais eles e nós, direitas e esquerdas, as cores das peles, as religiões, os sexos e as escolhas individuais de comportamento, é morrer ou sobreviver, como viver e retomar a vida será assunto para depois.
Os intelectuais, os economistas, os líderes, pastores, chefes, os donos das verdades, dos destinos, os donos dos poderes não têm respostas para como será o amanhã. Todos ficaram humanos, normais e iguais. Iniciamos uma viagem rumo ao desconhecido, todos juntos.
Não sabemos o destino, o roteiro e o plano, os veículos a serem usados e as suas condições, a quantidade de combustível disponível. Não há bússolas, apenas passo a passo.
Uma coisa está posta e ela é maravilhosa: cuidar de cada um passou a significar cuidar de todos.
Antônio Carlos Aquino de Oliveira